PLATAFORMA DE TESTES

Por Eduardo Hilton

 Na aviação experimental, para se testar uma modificação em uma aeronave, o mais comum, seria colocar o que se está querendo testar na aeronave e fazê-la voar. Isso no entanto pode não ser muito aconselhável, pois no caso de uma pane, a situação pode se complicar. Para evitar este tipo de situação, para a aviação homologada, foram desenvolvidos os túneis aerodinâmicos, cuja função é testar toda a parte aerodinâmica de forma a antecipar futuros problemas. Quando queremos testar um motor, podemos utilizar um dinamômetro de motor, onde podemos simular todos os tipos de carregamento necessários para o perfeito funcionamento deste. Existe no entanto uma situação onde seria necessário simularmos a potência consumida e a refrigeração do motor, levando em conta a posição do radiador de óleo ou água, os bocais de refrigeração, a atitude do avião, etc. Os parâmetros são muitos. Neste caso, a solução é testar o motor o máximo possível, em um dinamômetro, e simular em túneis de vento as diversas posições que se poderia colocar o radiador de água ou óleo, entradas de ar, etc, de forma que este pudesse refrigerar bem o motor. Após estes teste, o motor e todo o sistema de refrigeração podem ser montador na aeronave, e fazê-la voar, com “quase”, certeza de que nada sairá errado. Quem constrói sabe, que nem tudo sai conforme o desejado. Isso se aplica nos mais diversos segmentos. Portanto, uma aeronave mesmo tendo sido testada em túneis de vento e seu motor em dinamômetros, ainda assim está sujeita a imprevistos.

Na aviação experimental, falar em túnel de vento, é coisa para muito poucos, principalmente em se tratando do Brasil. O mesmo pode-se se dizer de dinamômetros do motor. Apesar de que, este último é bem fácil de ser construído, bastando para isso possuir uma hélice de passo variável no solo, uma mola calibrada, uma bancada simples, e com uma pequena tabela de umidade e temperatura, para podermos fazer as devidas correções para o nível do mar e podemos chegar a bons resultados. Isso no entanto é papo para um outro dia.

A dificuldade em ter a disposição um túnel aerodinâmico, ou um dinamômetro de motor, não quer dizer necessariamente que não podemos improvisar bancadas de teste.

Usar um carro para fazer mover uma asa ou uma maquete de uma aeronave, e simular algumas situações, já é fato bastante comum. O carro correndo em uma pista, fará a função do túnel de vento.

Para o motor, fazer uma simulação parece mais complicado, no entanto é possível de se fazer uma bancada bastante eficiente também para isso.

Para quem mora longe de local onde exista uma  represa, a utilização de uma camionete com o motor colocado na caçamba, poderá ser uma opção bastante eficiente.

Para quem mora próximo à represas, pode se utilizar de uma lancha para este ensaio.

Alguns dias atrás, ao visitar o Alvarino, construtor do Aeromax, pude ver seu novo desenvolvimento. Um cabeçote refrigerado a água, para o motor VW, da mesma forma como é feito no motor Rotax 912. O sistema de refrigeração líquida é muito mais eficiente que o ar. Por isso, a idéia me pareceu boa. O Alvarino estava tendo problemas com a vizinhança, pois não podia deixar o motor a pleno na oficina, e nem queria coloca-lo no avião sem antes testar e ver os resultados.

Comentei com ele a idéia de se utilizar um barco para o ensaio. A idéia foi bem aceita, e o que era melhor, ele possuía um barco onde o teste poderia ser realizado.

Assim sendo foi colocado mãos a obra. A idéia era do motor ser colocado no barco, da mesma maneira em que vai ao avião. Por isso, da parede de fogo para frente, tudo deveria ser exatamente como no avião. Assim sendo, foi construída uma estrutura para receber o berço do motor, a partir daí, foi só utilizar as peças do avião.

Na foto que segue, podemos ver o motor montado na estrutura sobre o barco, com o capô ainda aberto.

  

Nesta foto, pode-se perceber a falta de aletas no cabeçote, onde a sua refrigeração passou a ser feita com a água.

Na foto seguinte, podemos ter uma melhor idéia de como ficou a montagem.

 

Repare que o motor está totalmente carenado da mesma forma que no avião. A estrutura que está na frente da hélice, é para proteção.

A entrada de ar para o radiador fica em baixo, e pode ser vista nesta foto. A lancha em questão possui 16 pés. Por ter um casco com “V” um pouco acentuado, não é a mais ideal para este teste, pois por ter o motor alto, o CG da lancha fica prejudicado. Por isso, as curvas devem ser feitas com todo cuidado.

Outro senão, se deve ao fato, de que, por estar a linha de empuxo bastante elevada, ao se acelerar o motor, irá criar um grande momento “picador” que fará com que apareça uma carga de aproximadamente 150 Kg na frente da lancha. Desta forma, ele terá dificuldade em “planar”, conseqüentemente, a velocidade desenvolvida deverá ser menor do que a obtida por uma lancha similar, com mesma potência, mas com a hélice na água.

Como último senão, existe ainda o torque do motor, que fará com que a lancha tenda a inclinar para o lado, complicando um pouco a sua utilização como bancada de teste, principalmente pelo casco em “V” acentuado. Porém uma inclinação no motor, da mesma forma com que é feita nos aviões pode resolver este problema.

Na foto que segue, podemos ver a lancha iniciando as corridas na água.

Os testes começaram recentemente, e já foi possível ter uma primeira impressão boa, tanto da “bancada de teste”, bem como do sistema de refrigeração que sempre se comportou bem.

Nos testes iniciais, andamos sem o radiador de óleo, forçando desta forma um superaquecimento no motor. O óleo chegou a quase 130 graus, e a água se recusava a passar dos 95 graus, obedecendo religiosamente à válvula termostática.

Posteriormente, foi colocado o radiador de óleo, onde a temperatura não ultrapassou os 110 graus, e a água, mantendo sempre os tranqüilos 95 graus.

O motor em que está sendo testado o cabeçote, é um 1800 cc, portanto ainda faltavam alguns ajustes na sua carburação. No entanto, este motor, esteve sempre trabalhando com no mínimo 3800 RPM. Os próximos testes deverão ser realizados com uma nova hélice, e rotações por volta dos 4200 RPM. O consumo por enquanto foi acentuado, pois o erro na carburação deixou as velas totalmente pretas, demonstrando uma mistura excessivamente rica.

Esta bancada, vai servir para testar novos redutores, o sistema de injeção de combustível, modificações diversas, além de outros motores.

Utilizando-se de bancadas semelhantes a esta, pode-se viabilizar qualquer idéia, bastando para isso, tempo para os testes, e algum dinheiro para gasolina, além é claro, de ser um bom lazer.